*Por Heverton Lacerda
Setembro, mês festivo no qual comemora-se a Semana Farroupilha e a Independência do Brasil, também marca a estreia anual da Primavera, a estação mais vicejante do ano. Mas o último setembro trouxe junto uma marca desoladora para a Amazônia. Somente em Manaus, foram 8.659 focos de queimadas, conforme o sistema de monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). É a pior da série histórica, que começa em 1998.
O recorde anterior é de 2015, quando o Inpe registrou 5.004 focos. A diferença entre o número de queimadas deste ano e o de 2015 é de impressionantes 3.655. Para ter uma ideia, essa diferença é maior do que a soma das queimadas dos anos de 1998, 1999, 2000, 2001 e 2008, que, juntos, contabilizam 2.554 focos. O número de setembro de 2022 é tão estarrecedor que ultrapassa a contagem do mesmo mês do ano passado em 5.860 focos de queimadas, e é mais do que o dobro do registrado em 2020. No Pará, a conta é pior ainda: 12.696.
O mundo inteiro sabe que o Brasil é rico em biodiversidade e em recursos naturais. Mas, da mesma forma, vê que o país está destruindo seus principais ativos: a natureza e as populações que dela dependem.
Já em 1991, durante uma CPI que disputava discursos sobre a Amazônia, o ex-presidente e fundador da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), José Lutzenberger, então secretário de Meio Ambiente do Governo Federal, afirmava que “o atual modelo não tem futuro e que nossos filhos vão ter que pagar a conta e vão nos amaldiçoar por isso”. Ele se referia ao modelo adotado por países que destruíram e queimaram suas florestas. “O que os países ricos estão fazendo é comer o planeta”, dizia.
É claro que a situação no Brasil não é a mesma dos países economicamente ricos. Aqui, nossa riqueza está expressa no próprio povo e no ambiente natural. Infelizmente, a economia nacional não avança, enquanto nossos recursos naturais seguem gerando fortunas no exterior. É preciso aproveitar a Amazônia como quem a ama, sem destruí-la.
* Heverton Lacerda é jornalista, especialista em Ciências Humanas e presidente da Agapan
Texto publicado originalmente na versão impressa do jornal Zero Hora em 26 de outubro de 2022.
Comments