*Por João Vitor Santos Um avanço, embora inda muito pequeno. Esta é a avaliação do ambientalista Heverton Lacerda acerca da COP28. Para ele, a tal “transição energética”, presente no documento final, “já deveria ter sido proposta nas primeiras conferências das partes, no fim do milênio passado, e já estar em estágio avançado de implementação”. Na entrevista a seguir, concedida por e-mail ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU, ele parte dos resultados da COP para refletir sobre os desafios ambientais que temos diante do desastre climático que temos vivido.
Uma transição energética, segundo posto na COP28, além de atrasada, ainda não resolve todos os problemas. “Além de rumar para um futuro sem emissões antrópicas exageradas de gases do efeito estufa, é preciso atentar para os impactos ecológicos dessas novas tecnologias de geração de energia considerada limpa, a exemplo dos parques eólicos offshore, que precisam de melhor regulamentação para suas implantações, com atenção especial às faunas e floras locais, assim como às comunidades tradicionais”, diz. Além disso, segue Lacerda, vemos práticas distanciadas de discursos sobre a transição. E tanto no Brasil como no mundo.
Para romper com a “petrodependência”, por exemplo, os desafios são gigantes, sob vários aspectos. “A ‘dependência’ é também uma facilidade, já que existe uma estrutura montada tanto para a prospecção de novas áreas quanto para a construção de novas plantas, utilizando do conhecimento e práticas acumulados. No entanto, o governo precisa mostrar que o discurso não está separado da ação. Principalmente um governo que assumiu o discurso ambiental na campanha eleitoral”, analisa.
Ao longo da entrevista, Lacerda também analisa os impactos do modo de produção agrícola brasileiro no meio ambiente, que chega a pesar mais na conta da crise climática do que os próprios combustíveis fósseis. E, com anos de atuação na área ambiental do Rio Grande do Sul, também analisa como o estado gaúcho vem deturpando lógicas de proteção do meio ambiente sob o argumento de “revitalizar” espaços e gerar emprego e renda.
No fim das contas, revela que seja o caso gaúcho, seja o caso brasileiro ou mundial, o problema é o mesmo. Não basta uma transição energética para assegurarmos a permanência da vida na Terra. “Como a ecologia observa os processos através de suas relações, o olhar local com pensamento global é um ponto importante a ser considerado. No caso das energias renováveis, é preciso considerar, além das emissões no processo de geração, distribuição e consumo, os impactos na implementação de parques, usinas e lavouras de produção”, sugere. E completa: “gerar energia destruindo lares e fontes tradicionais de geração de renda de populações desprotegidas não pode ser entendido como algo viável a ser aceito por nossa sociedade”.
*Texto de João Vitor Santos, publicado no portal IHU em 21 Dezembro 2023
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